domingo, 18 de dezembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Um poema, duas mãos
A magia do olho está no jeito de olhar.
- A vista é a do mar, aqui no Rio Vermelho...
- As tardes costumam usar um traje sensível, e vem uma saudade do nada. E deixo o mar me encher, como o mar em maré...
Até a beira de uma praia qualquer, se dá gosto de olhar, dá vontade de comer.
- E essas considerações, formo e abandono, em um trago lento de fumo que ergue-se e se dispersa longe.
Essa fumaça, pra quem vê além, são nuvens esparsas onde o amor se esconde...
- é talvez, no fundo. O amor é isso: soltar-se no ar, pela escada inexistente e a capacidade de se iludir.
- e espairecer.
Pois, nesse jogo de achar, melhor mesmo é se perder.
- Desde que qualquer coisa se possa sonhar, é a fuga abstrata do tempo.
É o vento que começa a soprar. E o fim de tarde vem lento, nessa cidade rodeada de mar, o que é? O que há?
- É qualquer coisa despertando em mim, aquela sensibilidade tênue... própria de quem sabe chegar e não teme.
Eu mesma, que acabo de dizer: anseio alto pelo sol na fronte e pelo horizonte inteiro.
Daniele Paula
Kaike Lamoso
domingo, 30 de outubro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
Travessia
No tempo em que andei perdida cercava-me o gelo, a morte, a indiferença. De repente em meio à penumbra do lugar, à meia luz, um coração e sua síndrome de ausência: Angústia profunda, dores corporais e viscerais generalizadas.
Na última vez que vi a pessoa que amei, o vexame foi outro, mas puro amor mais não foi.
- era travessia.
Na última vez que vi a pessoa que amei, o vexame foi outro, mas puro amor mais não foi.
- era travessia.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Fatalidade

Quando as estrelas imaginárias aparecem
Por longos encantos adormecem
Quem se arrisca a escrever uma só regra
Onde, ao menos, se encontre a palavra certa
Que descrevam os meus gestos mudos
Fatalidade atroz que o corpo esbarra
Extingue dessa hora a sensatez do mundo
Se for delírio ou se é verdade
Astros, noites, tempestades
Varrei os mares
Abrindo o horizonte imenso
E no silêncio astral da imensidade
Sutis palpitações
Que tão gentis se revelam
Seja assim como dizeis
Mandar vir: a lenha, o fogo. A fome, a sede. A chave, a porta. Os abraços honestos. Os beijos na mão. O bimbalhar dos sinos. Os fachos purpurinos.
Pra clarear os olhos do menino
Envolver sua tez
Corado cravo nascido
Vós nascestes para o riso
Pois bem! Talvez liberte o peito
Como o escravo que entoa seu canto
E a meia voz te respondo:
No molejo que vem
Te espero.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
O animal da floresta
De madeira lilás (ninguém me crê)
se fez meu coração. Espécie escassa
de cedro, pela cor e porque abriga
em seu âmago a morte que o ameaça.
Madeira dói?, pergunta quem me vê
os braços verdes, os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira
entre as estrelas e o chão que me abençoa
as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira
Thiago de Mello
se fez meu coração. Espécie escassa
de cedro, pela cor e porque abriga
em seu âmago a morte que o ameaça.
Madeira dói?, pergunta quem me vê
os braços verdes, os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira
entre as estrelas e o chão que me abençoa
as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira
Thiago de Mello
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
sábado, 24 de setembro de 2011
Mimosa
Nos olhos morena não padece o pranto
Nos olhos reina o amor
Rompendo em profundíssimos suspiros
Porém a boca, a testa, o dente
Honra as cinzas da dor
Eu sou aquela flor que não espera pela vida
O sol tá aí todos os dias e me mantém viva
Meu coração, com seus pés mimosos
Permanece livre, não há cativo
Derrama mel, e as moscas não vão a esse lugar
E ri-se a moça de cabelos contentes
Observando o céu que se desdobra
Eu sou aquela moça que nasce todos os dias
Há oito meses recebi um embrulho
e no meu ventre
toda luz dos astros
quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Eu vou ficar sentada aqui
Com meu rosto de jambo corado
Vendo o natal passar
Não gosto de festa cristã
Há muito tempo sou laica
Gosto de salpicão, com bastante maçã e uva passas
Eu vou ficar sentada aqui
Que para o papai Noel eu tenho um paiol aceso
Estou farta de símbolos do capitalismo
E propagandas de refrigerante
De ouvir falar em manjedoura
E de Jesus na cruz
Eu vou ficar sentada aqui
Que a noite está mais iluminada
E se ver a face das crianças mal amadas.
Até que se afrouxem as prisões, que cesse a estranha sede
E que o vermelho derramando seja o vinho invés do sangue.
Eu vou ficar sentada aqui
Que sentimento não se embrulha
Sem arcos, sem aljavas, os amores
O cheiro que sai dos nervos dele
Tem cheiro de passado
E eu não sei se é mesmo a minha mão que toca
A pele, ou o seu instinto que a tem presa
Eu vou ficar sentada aqui
E enfeitar de açucenas e margaridas o meu vestido
Caminhar até o campo e admirar astros mortos
'Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos'
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Ter vinte e cinco anos e gozar da vida
A ventura de uma alma de donzela
Ter febre que nunca descansa
Num delírio de sonhos,
e de dias...
Reclinada em jardins silvetres
Lembra-te: Que és flor
E precisa do sol para ter vida
Do vento da manhã que sacode as folhas
Que come poesia
e habita mundos despovoados.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Ofício
A noite se faz longa
A lua se faz gentil
A boca declama
O ofício do homem
A mulher e a vida
E nada deveria dividir os humanos
senão o sol e a noite
E juntos tu e eu
brindariamos o silêncio
Enquanto o vento pecorreria os caminhos
e varreria o cinza,
que sobrou do inverno
- e tudo vive para que nos preencha.
sábado, 30 de julho de 2011
O meio
Só quem vira brisa sabe o que chora o vento
Eu quero ser para o redemoinho o sopro
Suspiro que acorda Vênus
E na tua boca um ar de riso
Mas não me venha com receio
Nem peça para eu ir com calma
Eu sou uma violenta agitação de ar
Acompanhada quase sempre de chuva
Amor na minha idéia se retrata
Ou o cupido solta-me de vez dos teus braços
Ou faz de nós dois um só semblante
Nasceste de um acaso não pensado
E cresceu-te um olhar pouco advertido
Mas não me venha com receio
Nem peça para eu ir com calma
Que do meu peito sai água destilada
E deixais ser, levais ela mudada
Eu deixo o passado como quem deixa o tédio
O amor é agridoce, amado!
E não me venha com a ilusão de que tudo é leve
Pois é insustentável a leveza do ser
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Noite sem lua ou a vida nos botequins
Percorro as noites longas do inverno. O preto cintila o desassossego, aquele contraste do azul. A sua mão morna que segura o meu seio, não mede meu peito. Toda linha que separa o caos ao sereno azul, do preto ao intenso azul, me insere a esses tons, por ali me arrasto até somar a cor, uma sensação de vida parecida com essa estação. Gosto de sentir-me nessas horas lentas das noites extensas do inverno, sobe-me algo lírico da alma e se destaca, drama acompanhado de canto.
O que deixava a moça despreocupada era saber que na vida podia vestir a pele de uma personagem de romance. O ridículo foi seu papel extraído de má literatura. No outro dia a estrada de sua vida era traçada pelos seus olhos que brilhavam como de costume. Havia acabado de aceitar tudo isso, pois sabia como ninguém se transformar nessa personagem, que se insinuava sobre sua pele, depois de devorar palavras de Machado de Assis. Ela, que nunca temia pelo dia seguinte, sentia-se numa vida sem pudor, ela conseguia se libertar inteiramente do dia anterior. Gostava de sua honra paradoxal, a sombra e a luz, o colorido e as posições das figuras.
O que deixava a moça despreocupada era saber que na vida podia vestir a pele de uma personagem de romance. O ridículo foi seu papel extraído de má literatura. No outro dia a estrada de sua vida era traçada pelos seus olhos que brilhavam como de costume. Havia acabado de aceitar tudo isso, pois sabia como ninguém se transformar nessa personagem, que se insinuava sobre sua pele, depois de devorar palavras de Machado de Assis. Ela, que nunca temia pelo dia seguinte, sentia-se numa vida sem pudor, ela conseguia se libertar inteiramente do dia anterior. Gostava de sua honra paradoxal, a sombra e a luz, o colorido e as posições das figuras.
Palavras Brancas
Tornou-se difícil diluir em palavras os sonhos. No fundo é isso o que me dói um pouco. Não viver provoca dor. Morrer é outra coisa. E não há porque sofrer por não ser uma coisa ou por sê-la. Apesar de tudo escrevo palavras brancas, até sentir sobre os ombros um peso leve, os cabelos e algumas mãos. A tortura de uma mulher forte é maior que a de um doente, cuja profundidade é impossível de avaliar. É certo que lhe aconteça coisas que vem de fora. E não é só vida que corre em seu corpo. É palavras prenhes flamejantes, sustentadas em carne e sangue. Meus versos já nascem com fome.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Interrogação
Demorei a dormir noite passada, meu ventre revirava, minha criazinha parecia que queria me dizer alguma coisa. O médico disse que o caroço já chupa dedo. 'Ser mãe é muito bom para o poeta inocente, mas ele, se quiser, que experimente'. Não sei definir, não sei traçar os limites das coisas. Roma: é amor, lido do fim para o princípio. E ser mãe para uma pessoa que nunca pensou em ser é o quê?
Hoje o dia foi daqueles! Acordei cedo, e com a bolsa em baixo do braço, lá vai eu ladeira acima, conversando sozinha em voz alta, sobre: Domínio Amazônico, Mares de Morros, Pradarias, Araucárias, Faixas de Transição, Cerrado e Caatinga. Cheguei! Os meus 53 alunos me esperavam, acho que foi o sol, eles estavam mais inquietos do que nunca. E lá vem eu com meu pensamento filosófico, o meu modo de conceber a vida e a realidade universal. Olhar para o homem e o reconhecer como um animal indagador, desde a infância, me faz ficar ali parada em pé olhando meus alunos, esperando suas perguntas, eles esperam de mim a razão de ser das coisas. E minha sabedoria é manifestada através de um provérbio 'é melhor ficar vermelho um dia do que amarelo a vida inteira'.Ter a razão nunca foi uma tarefa fácil.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Sôfrego
Como um leão sem rebanho
Menina distante vai catar a infância
Minha terra é onde o rio corrente me espera
Sozinha, água, água nos cabelos
Molhar de eternidade o usado peito
Tatear a vida, como ela me apalpa
E o mundo não manda em nada
Tem olhos já cegos
E se antes só via, agora pego
Lançando os dados na agonia
Não, eu não desisto
Carrego o que tenho sobre os ombros
Prefiro que a alma pague
O que ela mesmo deve ao mundo
O juízo nunca saberá de tudo
Só eu sei o que é ir realmente pro-fundo.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Gira-sol
Banhada em lágrimas, depois de ter chorado toda água de sua mágoa. Sentou na porta de casa. O sol tinha voltado. As crianças corriam novamente nas ruas procurando as pipas caídas do céu, para lá dos campos amarelos de girassóis.
Essa mulher hoje vive a margem do rio e em sua casa existem molduras em forma de coração, do seu jardim sobe um aroma de jasmim, um cheiro limpo e embriagador.
Todos os dias ela inclina a cabeça suavemente, cravada nas montanhas, vendo desaparecer as últimas luzes da tarde. – Até onde chegam os olhos? E assim segue, depois, a vida.
Faz amor a intempérie. Onde ela estava sentada, ficou a terra toda regada de prazer, que até o sol e a lua morreram de vergonha.
Essa mulher hoje vive a margem do rio e em sua casa existem molduras em forma de coração, do seu jardim sobe um aroma de jasmim, um cheiro limpo e embriagador.
Todos os dias ela inclina a cabeça suavemente, cravada nas montanhas, vendo desaparecer as últimas luzes da tarde. – Até onde chegam os olhos? E assim segue, depois, a vida.
Faz amor a intempérie. Onde ela estava sentada, ficou a terra toda regada de prazer, que até o sol e a lua morreram de vergonha.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Paixões cruas

A noite tinha chegado. Havia a luz acesa da vela no escuro do quarto. Eu estava fixamente olhando a parede, observando seu vazio. Tenho me aproveitado muito desses momentos, absorvida na leitura de um pequeno livro – Meu pé de laranja lima – um romance juvenil. É sábado à noite, e essa leitura era a única coisa que me instigava. Bem nesse momento, abro o velho caderno de anotações e mais uma tarefa complexa foi me dada: descrever as sensações, os pensamentos e as ações.
Estava docilmente sentada em minha cama. E me encontrei na mesma posição 2 horas depois. Queixando-me de alguém, de mim mesma, por não enfrentar meus argumentos de longas campanhas.
Quando eu era criança, conheci um garoto mais velho. E, como era bonito, decidi conquistá-lo. Bem, ele não me quis! Pedi ao motorista para parar no começo da minha rua, e andei pela aléia que se estendia até o sítio onde eu morava. Passei 2 dias muda dentro de casa, sem conseguir falar com ninguém. Vale a pena observar, que muitas vezes acontecia, quase constantemente, eu tinha uma forte tendência a solidão, quando percebia alguma ausência na região do coração.
Na minha trajetória enquanto Geógrafa sempre procurei entender o conceito de Região, num contexto onde, ao mesmo tempo em que ocorre o fortalecimento de decisões em escala planetária, paradoxalmente a região é baseada na sua singularidade, o que assegura seus aspectos tradicionais. Contextualizando meu coração, as regiões que o abrange são: região singular, região de vivência, região da insensatez e região como classe de áreas. Essa análise apóia-se no positivismo lógico e na dedução.
Já era madrugada de domingo. A vela tinha derretido, sua cera ainda estava um pouco quente, formando um desenho estranho no chão do quarto. Virei as costas, acendendo a luminária logo na minha frente. Ouvi em torno de três batidinhas na porta do meu quarto, rápidas e leves. Logo depois uma voz suave e cansada. Era a voz de minha mãe. Ela sempre acordava pedindo para eu ir dormir. Mamãe nasceu na roça. Mas sempre teve medo de cobra, preferia passear na cidade, invés de ver o sol descer em cima de alguma árvore. Eu tenho a esperança lá longe que com o tempo melhore um pouco.
Às vezes eu me sinto uma intrusa entre os seres humanos. Passo noites em claro pensando na sociedade e sua relação com a natureza. Para Kant a natureza interior dos seres humanos compreendia suas paixões cruas, enquanto a natureza exterior era o ambiente social e físico no qual os seres humanos viviam. O homem exerce seu domínio sobre a natureza através das artes mecânicas. Seu comportamento é absolutamente os aspectos ditos externos da natureza, o que nos conduz a subordinação ao capitalismo industrial de modo significativo. Assim como percebo na voz de mamãe. Uma alteração gradativa ao passar dos anos. Será que ela pensa na oposição homem-natureza, espírito-matéria, sujeito-objeto? Onde estão suas paixões cruas?
Eu nunca fui capaz de entender os sentidos das ordens. Eu possuo um rosto teimoso, mas quase sempre tenho uma voz meiga.
- E o que dizia eu?
Olho para baixo, minha barriga mexe, não é fome, é vida! Fico encabulada. É uma sensação absolutamente maravilhosa. Estou sem saber por onde começar o ofício da maternidade. Os meus seios são onipresentes como Deus.
O sol começa a entrar lentamente sobre o telhado, o vento é frio, e só me resta procurar refúgio no território da minha cama, gozando do privilégio do agasalho.
domingo, 29 de maio de 2011
Só
Na vida quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
...E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando
Tom Zé
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
...E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando
Tom Zé
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Canção de mim mesmo
EU CELEBRO a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.
Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade
observando uma lâmina de grama do verão.
Casas e quartos se enchem de perfumes
as estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também,
mas não deixo.
A atmosfera não é nenhum perfume
não tem gosto de destilação
é inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre
estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco pra que ela faça contato comigo.
A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros... raiz
de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração
a batida do meu coração passagem de sangue e
ar por meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas,
da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz
palavras disparadas nos redemoinhos do vento,
Uns beijos de leve... alguns agarros... o
afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto
oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos
campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar... apito do meio-dia
a canção de mim mesmo se erguendo
da cama e cruzando com o sol.
Uma criança disse, O que é a relva?
trazendo um tufo em suas mãos;
O que dizer a ela ?
- sei tanto quanto ela o que é a relva.
Vai ver é a bandeira do meu estado de espírito,
tecida de uma substância de esperança verde.
Vai ver é o lenço do Senhor,
Um presente perfumado e o lembrete derrubado
por querer,
Com o nome do dono bordado num canto,
pra que possamos ver e examinar, e dizer
É seu ?
O blablablá das ruas... rodas de carros e o
baque das botas e papos dos pedestres,
O ônibus pesado, o cobrador de polegar
interrogativo, o tinir das ferraduras dos
cavalos no chão de granito.
O carnaval de trenós, o retinir de piadas
berradas e guerras de bolas de neve;
Os gritos de urra aos preferidos do povo
o tumulto da multidão furiosa,
O ruflar das cortinas da liteira — dentro um
doente a caminho do hospital,
O conto de inimigos, súbito insulto,
socos e quedas,
A multidão excitada — o policial e sua estrela
apressado forçando passagem até o centro
da multidão;
As pedras impassíveis levando e devolvendo
tantos ecos,
As almas se movendo... será que são invisíveis
enquanto o mínimo átomo é visível ?
Que gemidos de glutões ou famintos que
esmorecem e desmaiam de insolação
ou de surtos,
Que gritos de grávidas pegas de surpresa,
correndo pra casa pra parir,
Que fala sepulta e viva vibra sempre aqui
quantos uivos reprimidos pelo decoro,
Prisões de criminosos, truques, propostas
indecentes, consentimentos, rejeições de
lábios convexos,
Estou atento a tudo e as suas ressonâncias
estou sempre chegando.
Sou o poeta do corpo,
E sou o poeta da alma.
Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do
inferno estão comigo,
Aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo
estes, traduzo numa nova língua.
Sou o poeta da mulher tanto quanto do homem,
E digo que é tão bom ser mulher quanto ser homem,
E digo que não há nada maior que a mãe dos homens.
Vadio uma jornada perpétua,
Meus sinais são uma capa de chuva e sapatos
confortáveis e um cajado arrancado do mato;
Nenhum amigo fica confortável em minha cadeira,
Não tenho cátedra, igreja, nem filosofia;
Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
biblioteca ou à bolsa de valores,
Mas conduzo a uma colina cada homem e mulher
entre vocês,
Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
Minha mão direita aponta paisagens de
continentes, e a estrada pública.
Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
pra você,
Você tem que percorrê-la sozinho.
Não é tão longe assim... está ao seu alcance,
Talvez você tenha andado nela a vida toda e não sabia,
Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
água e sobre a terra.
Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em frente;
Toparemos com cidades maravilhosas e nações
livres no caminho.
Se você se cansar, entrega os fardos, descansa a
mão macia em meu quadril,
E quando for a hora você fará o mesmo por mim;
Pois depois de partir não vamos mais parar.
Walt Whitman
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.
Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade
observando uma lâmina de grama do verão.
Casas e quartos se enchem de perfumes
as estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também,
mas não deixo.
A atmosfera não é nenhum perfume
não tem gosto de destilação
é inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre
estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco pra que ela faça contato comigo.
A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros... raiz
de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração
a batida do meu coração passagem de sangue e
ar por meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas,
da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz
palavras disparadas nos redemoinhos do vento,
Uns beijos de leve... alguns agarros... o
afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto
oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos
campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar... apito do meio-dia
a canção de mim mesmo se erguendo
da cama e cruzando com o sol.
Uma criança disse, O que é a relva?
trazendo um tufo em suas mãos;
O que dizer a ela ?
- sei tanto quanto ela o que é a relva.
Vai ver é a bandeira do meu estado de espírito,
tecida de uma substância de esperança verde.
Vai ver é o lenço do Senhor,
Um presente perfumado e o lembrete derrubado
por querer,
Com o nome do dono bordado num canto,
pra que possamos ver e examinar, e dizer
É seu ?
O blablablá das ruas... rodas de carros e o
baque das botas e papos dos pedestres,
O ônibus pesado, o cobrador de polegar
interrogativo, o tinir das ferraduras dos
cavalos no chão de granito.
O carnaval de trenós, o retinir de piadas
berradas e guerras de bolas de neve;
Os gritos de urra aos preferidos do povo
o tumulto da multidão furiosa,
O ruflar das cortinas da liteira — dentro um
doente a caminho do hospital,
O conto de inimigos, súbito insulto,
socos e quedas,
A multidão excitada — o policial e sua estrela
apressado forçando passagem até o centro
da multidão;
As pedras impassíveis levando e devolvendo
tantos ecos,
As almas se movendo... será que são invisíveis
enquanto o mínimo átomo é visível ?
Que gemidos de glutões ou famintos que
esmorecem e desmaiam de insolação
ou de surtos,
Que gritos de grávidas pegas de surpresa,
correndo pra casa pra parir,
Que fala sepulta e viva vibra sempre aqui
quantos uivos reprimidos pelo decoro,
Prisões de criminosos, truques, propostas
indecentes, consentimentos, rejeições de
lábios convexos,
Estou atento a tudo e as suas ressonâncias
estou sempre chegando.
Sou o poeta do corpo,
E sou o poeta da alma.
Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do
inferno estão comigo,
Aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo
estes, traduzo numa nova língua.
Sou o poeta da mulher tanto quanto do homem,
E digo que é tão bom ser mulher quanto ser homem,
E digo que não há nada maior que a mãe dos homens.
Vadio uma jornada perpétua,
Meus sinais são uma capa de chuva e sapatos
confortáveis e um cajado arrancado do mato;
Nenhum amigo fica confortável em minha cadeira,
Não tenho cátedra, igreja, nem filosofia;
Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
biblioteca ou à bolsa de valores,
Mas conduzo a uma colina cada homem e mulher
entre vocês,
Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
Minha mão direita aponta paisagens de
continentes, e a estrada pública.
Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
pra você,
Você tem que percorrê-la sozinho.
Não é tão longe assim... está ao seu alcance,
Talvez você tenha andado nela a vida toda e não sabia,
Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
água e sobre a terra.
Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em frente;
Toparemos com cidades maravilhosas e nações
livres no caminho.
Se você se cansar, entrega os fardos, descansa a
mão macia em meu quadril,
E quando for a hora você fará o mesmo por mim;
Pois depois de partir não vamos mais parar.
Walt Whitman
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O jogo da carona
A moça detestava ser obrigada a lhe pedir (ele muitas vezes dirigia durante horas,sem interrupção) que parasse diante de um arvoredo. Ela sempre se irritava com a surpresa fingida com que ele lhe pergutanva por quê. Ela sabia que seu pudor era ridículo e fora de moda. Ela sempre enrubescia por antecipação diante da idéia que iria enrubescer. Muitas vezes desejava sentir-se livre, despreocupada, à vontade em seu próprio corpo, como sabia que era a maioria das mulheres com quem convivia. Até mesmo inventara, para seu uso próprio, um método original de autopersuasão: repetia para si mesma que todo ser humano recebe ao nascer um corpo entre milhões de outros corpos prontos para o uso, como se lhe fosse atribuída morada semelhante a milhões de outras num imenso prédio; que o corpo é, portanto, uma coisa fortuita e impessoal, nada mais do que um artigo de empréstimo e de confecção. Eis o que repetia para si mesma com todas as variações possíveis, tentando inutilmente inculcar em si essa maneira de sentir. Esse dualismo da alma e do corpo lhe era estranho. Ela se confundia muito com seu corpo para não senti-lo com angústia.
Risíveis Amores, escrito entre 1960 e 1968
Risíveis Amores, escrito entre 1960 e 1968
Amargura
O que sinto são proposições obscuras
Proporção entre as partes de um todo
Saber que a desgraça
É um ensaio funesto
Onde escurecer-se e anuviar-se fazem parte
Sentir na boca o absinto, o fel...
Sentar sobre um sofá amarelinho
Pálido, descorado, contrafeito
Refletir o riso amarelo
Satirizar
Censurar certo vícios
Preceitos de uma herança moral
Enquanto a vida
Esse estado de atividade incessante
Corre solta
Tempo que decorre
Entre o nascimento e a morte
Esse intervalo
Distância que separa dois sons
Deixam-nos sempre no limite
Consistir unicamente em não passar de restringir-se
Proporção entre as partes de um todo
Saber que a desgraça
É um ensaio funesto
Onde escurecer-se e anuviar-se fazem parte
Sentir na boca o absinto, o fel...
Sentar sobre um sofá amarelinho
Pálido, descorado, contrafeito
Refletir o riso amarelo
Satirizar
Censurar certo vícios
Preceitos de uma herança moral
Enquanto a vida
Esse estado de atividade incessante
Corre solta
Tempo que decorre
Entre o nascimento e a morte
Esse intervalo
Distância que separa dois sons
Deixam-nos sempre no limite
Consistir unicamente em não passar de restringir-se
terça-feira, 24 de maio de 2011
Ornato
O amor não tem hora para chegar
Ele simplesmente desponta
Puro, sem misturas
Sem ornato
Não múltiplo, nem duplo.
É único, exclusivo, só
Aparece para viver modestamente
sem luxo
Apresenta-se ingênuo e crédulo
Diz-se dos tempos verbais
conjugado sem auxiliar
Diz-se do período de uma só oração
Designativo de flor e sua ordem de pétalas
O amor não tem hora para chegar
Chega sem indícios, sem vestígios
ou marcas de pé, manchas na pele
letreiros ou rótulos.
Tiradentes
Hoje eu lembrei de você meu pai
E há um grande silêncio na morte
O frio ao coração lhe atormenta
Seu canto de morte, que mudo fuzila
Hoje pensei em seu colo meu pai
No desconcerto de suas mãos
No rio que a gente via crescer depois da chuva
Hoje lembrei da sua voz meu pai
Dizendo: tem rosto crestado
do sol do deserto e da luz do luar
Hoje eu lembrei de você meu pai
De como eu era
E há um grande silêncio na morte.
Escrita

As palavras escrevem a vida
E a virgula é a respiração de cada frase
Escrevo porque meu ser se encontra em prosa
E nessas frases que edifico
Ora sou alegre, ora triste.
Mergulho em coisas passageiras
no entanto delas é que tiro
o meu sustento, as vezes tormento
Mas reconheço o meu traço
como um corpo de água
intermitente ou sazonal
— não sei, não sei.
Córrego ou riacho
Esta é a minha vida:
Tudo e nada
Frente e verso
sábado, 30 de abril de 2011
Abril despedaçado.
eu tampo meus ouvidos
eu calo minha boca
eu silencio meu grito
eu reprimo meus instintos
eu troco de cor
eu corto os cabelos
eu perco o sapato
eu rasgo o vestido
eu faço tudo ao contrário
menos o contrário ao meu coração
se não eu o arrancaria
e seguiria sem ele....
eu calo minha boca
eu silencio meu grito
eu reprimo meus instintos
eu troco de cor
eu corto os cabelos
eu perco o sapato
eu rasgo o vestido
eu faço tudo ao contrário
menos o contrário ao meu coração
se não eu o arrancaria
e seguiria sem ele....
quarta-feira, 20 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
...o tempo passou e nos transformamos em adultos, quem dera que fossemos crianças para sempre. Com a idade vem o amadurecimento, as responsabilidades, os músculos se enrijecem e até o sorriso muda. Ninguém nasce racista, homofóbico, egoísta ou qualquer outra coisa, nossa sociedade que é culpada por criar ainda mais estereótipos e preconceitos. Nascemos todos inocentes, todo o resto são valores mesquinhos.
Por mais que não tenhamos o costume de fazer declarações de amor, saiba que mesmo não acontecendo isso, meu sentimento existe, é grande, e eterno.
(Trecho da carta entregue a meu irmão hoje)
Por mais que não tenhamos o costume de fazer declarações de amor, saiba que mesmo não acontecendo isso, meu sentimento existe, é grande, e eterno.
(Trecho da carta entregue a meu irmão hoje)
sábado, 2 de abril de 2011
Consciência Cósmica
Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...
Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...
Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir, se me retasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...
João Guimarães Rosa
quarta-feira, 30 de março de 2011
Amor não é metáfora
quarta-feira, 23 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
Naufragar
O rio que corre ao fundo segue para as águas do mar
Pois a terra ufana deu-lhe um lugar distinto
Mas a verdade é esta, esta e não outra
E não há, nem há fraqueza, ou triste covardia
Há desejo real de concluir mais um dia
E seu desaguadouro atro, há de clarear com o amanhã
É inútil resistir, com seu barquinho de papel
Tem que ser forte
Por que o vento leva, a tempestade chega, a chuva molha, o rio enche
Farei o que puder
E creio que me foi dado
Fazer muito
O caso é que eu seja utilizado
O dom de transformar-me, à vontade, a meu gosto
O rio não muda o mar
Nem tampouco o mar seu leito
Nem reconhece seu novo afluente.
Não vos julgo toda a culpa
Tornou-se neste mundo um singular composto
E agora, de que vale o fundo?
Vai o tempo chuvoso
Contra a suprema raiva e a cólera maior
Põe água na fervura, uma dose de amor
Não te lembras?
Sem mudar de feições, pode ser...
Sobra-te certezas, mas te falta alma
Que a luz do sol
Ilumine seu mar morto
E se naufragar
Que encontre virtudes
É uma dádiva que o existir, nos confiou
‘Mais que o céu, mais do que a fala
Mais que a água, mágoa, tudo; de asas, nada.’
terça-feira, 1 de março de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Fevereiro
Perante a vida empalidece. A alma pede por silêncio e prece. Se a dor é de ranger os dentes, cresce-me um novo ramo. Embora me doa rasgar a pele, a vida muda, o tempo muda, muda...! Nesta vida um soneto já ditei. E de medíocre já basta os sapatos que sozinhos iam, vinham. Contra o meu coração preguei a guerra mais dura, mas não sou fortaleza para amor tirano, muito menos resistência, longe de mim um peito com dureza, onde existe? Não sei. Isto posto, meu coração batia sem saber, ninguém assistiu o seu enterro quimérico ao encontrar o mundo que ele encheu, vazio! Mas, lá fora cresce a chuva, crescem os rios e dissolva-se, portanto, essa velha vida, igualmente o meu coração depois da morte. Então mais vivamente, sem violência da mágoa, erguer a cabeça, pintar no canto escuro do quarto o estrago, e vê, amor sem lágrimas, choro sem pranto, volúpia sem dor. E no silêncio sentir a agitação de um pulso sem febre, reconhecer as palavras doces esquecidas cá dentro. O rebater do coração se ouvia, é num ponto só, mas, é vida novamente.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
Conheço bem os sinais
E a árvore, move-se, estremece
O verão tarda
Mas logo essa manhã parecia já ter chegado
Na noite vi flores fechadas
Anunciando algo que guardava
O verão deixa o corpo despido
Com flechas, paixões e cupido
É a luz do sol que em vão se atreve
Que entra nos jardins
Entra enfim na mais interna
Parte do bosque, ainda escura e negra
Ilumina a fonte que murmura
E os cipestres agora espalham sombras
Mostrando seu corpo verde.
Conheço bem os sinais
Os olhos, em que amor, espreita
O verão tarda
Mas no coração essa manhã parecia ter chegado
Na noite vi seu rosto contrafeito
E o efeito foi
Um estrago no meu peito
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
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