quinta-feira, 3 de março de 2011

Naufragar




O rio que corre ao fundo segue para as águas do mar
Pois a terra ufana deu-lhe um lugar distinto
Mas a verdade é esta, esta e não outra
E não há, nem há fraqueza, ou triste covardia
Há desejo real de concluir mais um dia
E seu desaguadouro atro, há de clarear com o amanhã
É inútil resistir, com seu barquinho de papel
Tem que ser forte
Por que o vento leva, a tempestade chega, a chuva molha, o rio enche
Farei o que puder
E creio que me foi dado
Fazer muito
O caso é que eu seja utilizado
O dom de transformar-me, à vontade, a meu gosto
O rio não muda o mar
Nem tampouco o mar seu leito
Nem reconhece seu novo afluente.
Não vos julgo toda a culpa
Tornou-se neste mundo um singular composto
E agora, de que vale o fundo?
Vai o tempo chuvoso
Contra a suprema raiva e a cólera maior
Põe água na fervura, uma dose de amor
Não te lembras?
Sem mudar de feições, pode ser...
Sobra-te certezas, mas te falta alma
Que a luz do sol
Ilumine seu mar morto
E se naufragar
Que encontre virtudes
É uma dádiva que o existir, nos confiou
‘Mais que o céu, mais do que a fala
Mais que a água, mágoa, tudo; de asas, nada.’

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